Uma boa gestão dos riscos relacionados às questões ambientais e sociais vai muito além do cumprimento de aspectos legais e regulatórios. As práticas ESG nas organizações, sob uma ótica multidimensional e sistêmica, podem gerar oportunidades e valor de longo prazo aos negócios.
Sobre este assunto, a CoSafe LATAM realizou um evento no último dia 22/10, com a participação de Bruna Cavole Lauro, Coordenadora de Compliance e Risco Socioambiental no Itaú Unibanco e Fabiano Rangel, Head de Desenvolvimento Organizacional e Institucional da Leão, mediados pela CEO da CoSafe LATAM, Ana Flavia de Bello Rodrigues.
Práticas ESG
O termo ESG (do inglês Environmental, Social and Governance) diz respeito às práticas empresariais e de investimento que se preocupam com critérios de sustentabilidade. É usado como métrica para nortear boas práticas, que levam em consideração os impactos ambientais e sociais da cadeia de negócios, as emissões de carbono, a gestão dos resíduos e rejeitos oriundos de determinada atividade, questões trabalhistas e de diversidade e inclusão dos trabalhadores e a metodologia de contabilidade, como a conduta corporativa, auditorias e composição do conselho de administração.
As práticas ESG estão relacionadas com o fluxo de caixa de cinco formas importantes:
- facilitar o crescimento de receita
- reduzir custos,
- minimizar intervenções regulatórias e legais
- aumentar a produtividade dos funcionários
- otimizar investimento e gastos de capital
“A gestão de riscos é um dos pilares essenciais da governança corporativa. Ela define os rumos que as organizações pretendem trilhar. Esse processo de trabalho tem diretrizes, e contempla quatro etapas fundamentais: identificar os riscos (como as partes interessadas percebem o assunto), analisar e mensurar (com base em critérios de materialização x probabilidade), deliberar (comunicação para a tomada de decisão), e monitoramento (buscar mecanismos de prevenção, de gestão de consequência e indicadores com vistas ao efetivo alcance dos objetivos da instituição)”, relata Bruna.
Apetite de Risco
A sistematização do nível de riscos que uma empresa está disposta a correr para alcançar determinados objetivos e dos métodos de controle desses riscos que a organização utiliza, é a definição do termo apetite ao risco. Todas as decisões tomadas envolvem riscos, e saber com clareza o quão disposta a empresa está a arriscar é determinante para os modelos de negócios.
A pandemia de Covid-19 vem produzindo repercussões e impactos sociais, econômicos, sanitários sem precedentes na história. Muitas empresas foram obrigadas a parar ou enfrentar restrições de execução tanto em função dos protocolos sanitários, como também por falta de mão de obra – risco social e econômico derivado de um contexto pandêmico, decorrente do cenário sanitário.
“Toda atividade humana sem exceção é potencialmente geradora de externalidades. Não é diferente nas organizações, onde os principais grupos de partes externas interessadas são formados por acionistas, credores, comércio, fornecedores, clientes e stakeholders e as partes interessadas internas são formadas pelo conselho de administração, executivos e demais empregados. A governança revela processos, costumes, políticas, leis e práticas que são usados para decisões alinhadas a um caminho comum de interpretações e condutas das empresas. Em 1994, o sociólogo e consultor britânico John Elkington formulou o conceito Triple Bottom Line – o tripé da sustentabilidade – também conhecida como os “Três Ps”. Segundo esse conceito, para ser sustentável uma organização ou negócio deve ser financeiramente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável. Desde então uma visão sistêmica e integrada desses três ativos vem sendo trabalhada, e a governança está atrelada a uma perspectiva mais ampla de como gerir esses elementos para ao final obter um resultado econômico positivo”, defende Fabiano.
Investimentos em ESG
Investimento em ESG como oportunidade busca a construção de reputação, pois a gestão responsável elimina perdas e ganha em eficiência. “A gestão de riscos é parte de todas as atividades organizacionais. Numa gestão de riscos em ESG, toda atividade econômica está sujeita a análise formal (aspecto regulatório), a análise imaterial ou reputacional (aspectos financeiros, experiências passadas, sociais), e análise material ou prática. O envolvimento da alta administração com o ESG é essencial”, diz Bruna.
Estamos sentindo os impactos dos riscos sociais, ambientais e climáticos. Podemos citar extinção de espécies, inundações, erosões, poluição, incêndios, aumento do nível do mar, desertificação, agravamento do efeito estufa, a diminuição dos mananciais e refugiados climáticos. Portanto, os critérios ESG passaram a ser considerados para decisões sobre investimentos. A percepção de Bruna é de que “os recursos naturais são finitos e afetam a economia com um todo, além do comportamento do consumidor ter mudado, dando preferência a busca por produtos sustentáveis”.
A estagflação acontece quando um país passa por uma recessão (queda da atividade econômica) simultaneamente a uma forte disparada dos preços. Sobre a perspectiva de riscos futuros e oportunidades a serem criadas a partir da análise estratégica, existem precificações diferentes de investimento como: decisões tomadas por convicção – preventivo, por conveniência – facilidade de acesso, e por necessidade – emergencial. Fabiano exemplifica, “organizações com suas diretrizes de governança definidas que, independentes das externalidades (efeitos colaterais de uma decisão sobre aqueles que não participaram dela), decidiram há alguns anos investir em programas de eficiência energética, energia renovável ou autogeração, tem hoje vantagem competitiva frente à concorrência, além da geração de impacto ambiental positivo”.
Oportunidades com ESG
A adoção do ESG encontra motivação em ações de impacto positivo, aspectos evolutivos relacionados ao meio ambiente, questões sociais ou de governança, gerando alto potencial de competitividade a curto prazo, e um determinante da perenidade do negócio a longo prazo. Os Green Bonds ou Títulos Verdes, por exemplo, similares aos títulos de dívida comuns, com a diferença essencial de que só podem ser usados para financiar investimentos considerados sustentáveis – como infraestrutura de energia limpa e renovável, transporte verde e projetos capazes de reduzir emissões e o consumo de água, energia e matérias-primas.
Iniciativas governamentais têm acontecido, como por exemplo a adesão do governo paulista às campanhas da ONU – Race to Zero e Race to Resilience, que representa um compromisso com órgãos internacionais em busca da descarbonização. Foi publicado também um relatório pelo Banco Central do Brasil, que apresenta ações do BC relacionadas à gestão de riscos e oportunidades sociais, ambientais e climáticas. Esses riscos e oportunidades estão associados aos fatores ASG (ambientais, sociais e de governança), ou ainda, fatores ESG, incluindo os riscos e as oportunidades das mudanças climáticas, que podem impactar o próprio BC e o SFN.
O subsecretário de Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Trani, apresentou o Plano de Ação Climática Net Zero 2050. A iniciativa busca a neutralidade das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) no estado até o ano 2050. O plano propõe um roteiro temático em cinco eixos: Eletrificação Acelerada; Combustíveis Avançados; Eficiência Sistêmica; Resiliência e Soluções Baseadas na Natureza; e Finanças Verdes e Inovação.
“Temos um conjunto de políticas de estado no Brasil bastante significativo, mas precisamos evoluir em relação a apropriação e materialização prática dessas políticas como oportunidade e de incentivo”, completa Fabiano.
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