De acordo com a ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação), as peças falsificadas ou roubadas contabilizam anualmente aproximadamente R$ 3,2 bi de prejuízos para as indústrias do setor automotivo.
Mas o montante assustador de prejuízo não é o único problema. Componentes falsificados, desviados ou roubados, sejam eles mecânicos, hidráulicos, pneumáticos, elétricos ou eletrônicos, oferecem risco constante à saúde física e ao equilíbrio econômico dos consumidores devido à falta de garantia da qualidade de peças com origem desconhecida ou duvidosa.
Apesar de questionável, a explicação do sucesso de peças falsificadas ou roubadas é bem plausível. Grande parte da população brasileira não possui musculatura econômica necessária para realizar todas as substituições com peças originais e, em conjunto com esta problemática, todo veículo possui uma infinidade de componentes e, qualquer “pecinha” com defeito, pode desfalcar o orçamento mensal familiar do indivíduo.
Unindo este ponto ao mau hábito de não pedir nota fiscal e todo um mercado negro bem estruturado para venda de itens falsificados e/ou roubados, obtém-se a receita perfeita para a circulação dessas peças. São poucas as pessoas que realmente entendem sobre os componentes de seu veículo. Geralmente, quando se busca por manutenção, o consumidor está à mercê do especialista, seu diagnóstico e soluções.
Como as montadoras são impactadas pela alta comercialização de peças falsificadas?
Uma grande parte do prejuízo, senão a maior, causada pelo comércio de peças falsificadas ou roubadas, está diretamente ligada aos impactos de custos e imagem, que são dimensionados exponencialmente em relação com o dano ou prejuízo causado ao consumidor, vítima do componente de origem duvidosa.
De acordo com Geroncio Pereira, Supervisor de Proteção Patrimonial e Resposta à Emergência na General Motors, “até que se prove que um veículo sofreu um problema causado pela utilização de uma peça ou item oriundo de desvio ou falsificação, a repercussão negativa sobre a qualidade de um determinado produto pode tomar grandes proporções”.
Pereira reforça que “quando um item, oriundo de um desvio ou falsificação, chega até o consumidor final, não há a garantia de qualidade deste material. Mesmo no caso do desvio, onde as peças foram produzidas com o maior rigor no controle da qualidade, em algum momento foram retiradas do fluxo correto de utilização e produção do veículo. Não se sabe as condições de armazenamento, transporte e manuseio aos quais estes itens foram submetidos antes de sua comercialização no mercado paralelo”.
Assim, os impactos podem ser financeiros, caso haja a necessidade de um chamado para recall, na perda da credibilidade da marca e consequente perda de valor de suas ações e, em alguns casos, até custos com ações judiciais.
No entanto, o maior problema mora na degradação da imagem da montadora, que pode levar anos para dar a volta por cima e recuperar o reconhecimento da qualidade e segurança dos veículos e suas peças.
Qual o principal desafio encarado pelas montadoras na prevenção e o que é feito para isso?
Segundo Pereira, “o maior desafio ainda é cultural, onde o preço do produto ou serviço ainda influencia mais na decisão da compra do que a procedência. Com isso, muitos usuários optam pela compra ilegal (tendo conhecimento ou não), fomentando esse mercado”.
Além do desafio cultural, as montadoras também se deparam com uma série de obstáculos na prevenção dos danos causados por peças falsificadas ou roubadas, que podem ser superados a partir de:
- Garantias de serviços, peças e do próprio veículo (quando realizados os procedimentos nas concessionárias)
- Controles de produção (automatização dos controles de inventários)
- Sistemas de rastreio (cargas)
- Qualidade do produto, diferenciais únicos e sustentabilidade da marca
- Inventários automatizados (drones)
- Rastreabilidade de movimentação de caminhões e empilhadeiras (fluxo interno)
- Scanner de cargas
Para encerrar, Pereira ressalta que além dessas medidas, a GM realiza uma série de outros procedimentos para se prevenir dos inúmeros problemas causados pelo uso e comercialização de peças falsificadas ou roubadas. Entre eles estão:
- Certificação OEA (Receita Federal) para importados
- Verificação em amostragem dos itens recebidos
- Contagem por amostragem de itens em fluxo produtivo (itens de interesse)
- Controle de materiais/peças de scraps (garantia de destinação correta/destruição)
- Procedimentos e tecnologias no controle de acesso de pessoas, veículos e cargas
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